A febre

O aumento da temperatura corporal é um sinal de alerta, não de alarme, de que muito provavelmente se está a iniciar uma infecção, quase sempre sem consequências, na qual a própria febre actuará como mecanismo de defesa. Este sintoma constitui normalmente motivo de grande preocupação para os pais, que adoptam uma atitude agressiva para com o referido sintoma. No entanto, a febre, por si só, raramente é prejudicial e é sempre consequência de algo. Ã competência do médico tentar descobrir o que a provoca e tratar o problema.

A TEMPERATURA CORPORAL A temperatura corporal normal é a expressão da energia, sob a forma de calor, que o organismo produz durante o seu metabolismo. Pode variar de pessoa para pessoa e oscilar consoante o momento em que for medida: é mais alta a seguir ao exercício físico, se houver demasiado calor ambiental, após as refeições ou ao final da tarde. Também é diferente consoante o lugar em que for medida: a temperatura axilar é 1° mais baixa do que a rectal, pois o corpo está mais fresco à superfície do que no seu interior.

O corpo humano dispõe dos meios adequados para manter a sua temperatura estável dentro de certos limites bastante precisos. Ã capaz de perder calor aumentando a circulação sanguínea na pele (vermelhidão) e através do suor, de aumentar a sua produção mediante os arrepios, ou de reduzir a sua perda reduzindo, por sua vez, a quantidade de sangue que circula pela pele. A febre é uma resposta biológica controlada pelo sistema nervoso e é um sinal comum a muitas doenças infantis.

Uma das causas mais frequentes da febre, embora não seja a única, são as infecções. As crianças com febre costumam ter frio e apresentam a pele das mãos e dos pés azulada, sarapintada e fria, devido a uma menor circulação sanguínea nestas zonas. Normalmente, não suam (sobretudo as crianças pequenas) e, muitas vezes, sentem arrepios durante os momentos de aumento ou descida brusca de temperatura.

Considera-se normal uma temperatura rectal de 37,6°; entre 37,6º e 38°, fala-se de febrícula ("décimas") e, quando é superior a 38°, trata-se de verdadeira febre. Muitos dos episódios febris duram entre 1 e 3 dias e são normalmente provocados por infecções víricas autolimitadas. Por conseguinte, muitas vezes não é necessário administrar antibióticos.

Geralmente, a quantidade de febre nem sempre está relacionada com a gravidade da doença (salvo no lactante pequeno) e não provoca efeitos indesejáveis. Além disso, as temperaturas inferiores a 39,5º são muito bem toleradas pela criança. Por outro lado, a febre também pode ser benéfica, ao estimular os sistemas de defesa do nosso organismo face à infecção e ao produzir um ambiente hostil para o desenvolvimento dos micróbios que causam as doenças. Por isso, nem sempre é fundamental tentar baixá-la a todo o custo.

3% da população infantil pode ter convulsões febris provocadas pelo aumento brusco da temperatura. À margem da angústia que habitualmente causam nos familiares, as convulsões febris têm características benéficas, não deixam lesões cerebrais e não requerem tratamentos posteriores. Finalmente, duas crenças falsas que convém banir: uma, que o rompimento dos dentes é causa de febre, e outra, que a febre alta pode provocar uma meningite.

COMO MEDIR A TEMPERATURA A única forma de saber com precisão a temperatura da criança é colocando-lhe o termómetro no recto. Para tal, ponha-o de barriga para baixo segurando costas e pernas (pode lubrificar o termómetro com óleo ou vaselina) e, sem forçar, introduza-o 2-3 cm. no recto pela parte que tem o mercúrio e mantenha-o aí durante 2-3 min. (Existem termómetros especiais para lactantes e crianças, com o depósito de mercúrio mais pequeno). Comprima bem as nádegas segurando o termómetro com a outra mão.

PRECAUÇÃO: NUNCA DEIXE A CRIANÇA SOZINHA COM O TERMÔMETRO INTRODUZIDO, JÁ QUE EXISTE A POSSIBILIDADE DE PODER PARTIR ACIDENTALMENTE NO INTERIOR DO RECTO.

A medição rectal não é aconselhável se tiver diarreia. Nesse caso, será mais conveniente medir a temperatura axilar. Depois de o fazer, desinfecte bem o termómetro. Se, por alguma circunstância anormal, o termómetro partir, será sempre necessário ir ao médico se não conseguir recuperar todos os fragmentos, pois pode ter ficado algum no interior do recto. Geralmente, estas rupturas não representam qualquer perigo porque os fragmentos de vidro são muito pequenos e não causam lesões, as feridas são normalmente superficiais e o tipo de mercúrio do depósito não é tóxico.

FORMA DE ACTUAÇÃO FACE À FEBRE A criança com febre costuma estar definhada, irritável e com menos apetite. Ã aconselhável:

1.- Mantê-la num ambiente fresco (à volta de 20°), com pouca roupa e afastada de fontes de calor como aquecedores e radiadores. Quanto mais alta for a febre da criança, menos agasalhada deve estar. 2.- Oferecer-lhe com frequência pequenas quantidades de água, sumos de fruta açucarados ou leite, sempre que peça. Não forçá-la a comer nem a beber. 3.- Se a febre não lhe causar nenhum transtorno e se sentir bem, não é necessário dar-lhe antipiréticos. 4.- Se a febre for alta (39° ou mais) e/ou sentir muito desconforto, deverá dar-lhe um antipirético (ver adiante). Se for superior a 40°, são úteis os seguintes meios físicos aplicados cerca de meia hora após a administração do antipirético.

Fricção com esponja: Friccionar corpo e cabeça com uma esponja embebida em água morna. Repetir cada vez que a água evaporar, até conseguir que a temperatura baixe um grau.

Banho em água: Preparar a banheira com 10-15 cm. de água a uma temperatura de 29-32°. Sem forçar, segurá-la dentro de água molhando-a com uma esponja durante 15-20 min., mantendo a temperatura da água constante.

5.- Controlar-lhe a temperatura 3-4 vezes por dia, mas sem a acordar se estiver a dormir ou com aspecto relaxado. 6.- Não é necessário o repouso na cama se a criança se sentir bem. As brincadeiras habituais são permitidas, mas o exercício activo deverá ser evitado pois pode aumentar a temperatura.

QUANDO LEVAR A CRIANÇA COM FEBRE AO MÃDICO Requer atenção pediátrica imediata se: • Tiver mau aspecto e uma erupção cutânea vermelha-vinosa ou hemorrágica, que pode ser desde pontual e com poucos elementos a múltipla ou com grandes zonas roxas. • Tiver tido a sua primeira convulsão causada pela febre. • Tiver uma sonolência excessiva, não se aguentar em pé, tiver vómitos abundantes e dores de cabeça intensas juntamente com rigidez ao dobrar a nuca. • For um lactante e tiver um choro fraco sob a forma de gemido ou se for muito agudo e persistente, apresentando, além disso, a pele pálida ou arroxeada, ou grande prostração. • Lhe custar respirar ou se queixar continuamente. • Tiver idade inferior a 3 meses e a sua temperatura rectal for superior a 39°. • A febre for alta (mais de 39º) e não tiver baixado com tratamento após um intervalo de tempo de 6-12 h. Requer atenção pediátrica em horas de consulta se: • A febre persistir mais de 48 h. sem sintomas associados que apontem para a sua causa, ou se for superior a 40° numa criança com mais de 3 anos, ou se reaparecer após um intervalo de 24-48 h. • Sentir dor ou ardor ao urinar. • Tiver antecedentes de convulsões febris.

NÃO É CONVENIENTE • Envolver a criança em toalhas frias ou submergi-la em água fria. • Fazer-lhe fricções com álcool ou colónia, já que pode provocar uma intoxicação etílica por inalação e absorção pela pele. • Forçá-la a comer ou a beber (embora seja bom oferecer-lhe líquidos). • Dar-lhe antibióticos sem ter consultado o pediatra. • Agasalhá-la mais, mesmo que esteja constipada. • Medir-lhe constantemente a temperatura.

MEDICAMENTOS ANTIPIRÃTICOS Os antipiréticos actuam sobre o centro regulador da temperatura, situado no cérebro, mas não intervêm no curso natural da doença. São medicamentos sintomáticos, isto é, que servem apenas para tratar o sintoma “febre” e o mal-estar produzido por ela. Os mais eficazes são o Paracetamol e o Ibuprofeno e têm um efeito semelhante. Ambos são analgésicos (diminuem a dor), apesar do Ibuprofeno também ter efeitos anti-inflamatórios. O seu efeito antipirético faz com que a criança se sinta mais confortável, mas raramente consegue fazer desaparecer a febre alta no início da doença. Estes medicamentos só devem ser administrados quando a criança sentir mal-estar ou tiver uma temperatura superior a 39°. Siga as instruções de dosagem do seu pediatra e lembre-se de que, dada a sua toxicidade, os medicamentos devem ser mantidos bem fechados e num local inacessível para as crianças.

O Paracetamol: (APIRETAL®, GELOCATIL®, FEBRECTAL®): é o antipirético de eleição. A dose é de 0,15 ml por cada Kg. de peso, 4 vezes por dia, por via oral, sob a forma de gotas ou xarope (evite dá-lo em supositórios). Tem poucos efeitos irritantes para o estômago, mas em doses excessivas é um tóxico hepático. Por conseguinte, não deve ser dado simultaneamente por via oral e rectal, ou repetir mais de 6 doses por dia, mesmo que a febre persista. O seu uso não é recomendado em crianças com idade inferior a 2 meses, nem mais de 5 dias seguidos.

O Ibuprofeno (DALSY®): dá-se em doses de 0,25 a 0,5 ml por cada Kg. de peso e dose, cada 6-8 horas.

O Ácido Acetil Salicílico (ASPIRINA® —125 mg/comprimido—): embora tenha uma boa actividade antipirética, não deve utilizar-se para este fim em crianças, sobretudo quando a causa da febre é uma infecção vírica e, muito especialmente, se tiver varicela (pois foi associada à apresentação de graves transtornos neurológicos e hepáticos denominados “Síndroma de Reye”). Pode recomendar-se como analgésico noutras circunstâncias, ou como anti-inflamatório em doses muito maiores. As suas doses são: 10-15 mg / Kg. e dose, 4 vezes por dia. Nas doses correctas, é eficaz e relativamente seguro, mas pode provocar hemorragias gástricas não relacionadas com a quantidade ingerida e alterações na coagulação, pelo que não é conveniente administrá-lo durante os dias prévios a uma intervenção cirúrgica. Não devem administrar-se 2 antipiréticos de forma alternada ou simultânea, salvo em casos de hipertermia (mais de 40°) ou salvo indicação expressa do pediatra.

Sempre que o meu filho de 2 anos tem febre, ultrapassa os 39º. Ã grave ter febre tão alta? Ficamos muito assustados cada vez que isso acontece.

A presença de febre, por si só, não indica gravidade, mas sim que é um sinal de alerta (não de alarme), de que muito provavelmente se está a iniciar uma infecção. O facto de algumas crianças apresentarem febre alta, e outras não, não é muito importante. A grande maioria das infecções infantis são leves e auto limitadas, quase sempre sem consequências, nas quais a própria febre actuará como mecanismo de defesa. Em caso de dúvida, deve consultar sempre o pediatra, que avaliará se é necessário indicar um tratamento específico ou fazer algum exame complementar.

Se uma criança tiver frequentemente décimas de febre, há motivos para preocupações?

A temperatura corporal pode variar de pessoa para pessoa e oscilar consoante o momento em que for medida: é mais alta a seguir ao exercício físico, se o calor ambiental for excessivo, após as refeições ou no final da tarde. Também é diferente em função do lugar onde for medida: a temperatura axilar é 1° inferior à rectal, pois o corpo está mais fresco à superfície do que no seu interior. Considera-se normal uma temperatura rectal de até 37,6°; entre 37,6º e 38°, fala-se de febrícula ("décimas") e, quando é superior a 38°, trata-se de verdadeira febre. Nestes dois últimos casos, deve consultar o pediatra.

Quando o meu filho tem febre pede para o taparmos, mas o pediatra diz que não o devo fazer. Porquê?

As crianças com febre costumam ter a sensação de frio e apresentam a pele das mãos e dos pés azulada, sarapintada e fria, devido a uma menor circulação sanguínea nestas zonas. Normalmente, não suam (sobretudo as crianças pequenas) e, muitas vezes, sentem arrepios durante os momentos de aumento ou descida brusca de temperatura. Apesar de tudo, é conveniente destapá-las ou cobri-las apenas com um cobertor leve ou um lençol de algodão, ou inclusive dar-lhes banho com água morna para facilitar a diminuição da febre.

O que são convulsões febris? Podem causar danos cerebrais?

3% da população infantil pode ter convulsões febris provocadas pelo aumento brusco da temperatura. Apesar da angústia que normalmente causam aos familiares, as convulsões febris têm características benéficas, não deixam lesões cerebrais e não requerem tratamentos posteriores.

à verdade que a febre pode ser provocada pelo rompimento dos dentes?

Existem duas crenças falsas que convém desde já exclarecer: uma, que o rompimento dos dentes é causa de febre, e outra, que a febre alta pode provocar uma meningite. Nenhuma corresponde à verdade.

O meu filho não quer tomar nenhum tipo de xarope: cospe tudo e também me custa dar-lhe supositórios. O que poderei fazer se tiver febre?

A febre moderada pode baixar sem anti térmicos. Manter a criança num ambiente fresco (À volta de 20°), com pouca roupa e afastada de fontes de calor como aquecedores e radiadores pode ajudar. Dar-lhe banho com água morna e oferecer-lhe líquidos também ajuda a controlar os efeitos da febre. Quanto mais alta for a febre da criança, menos agasalhada deve estar.

O meu pediatra comentou-me que não é necessário ir a correr para o serviço de Urgências se uma criança tiver febre. Que, inclusive, é conveniente deixar passar algumas horas para ver se aparecem outros sintomas associados. Ã verdade?

Deve dirigir-se imediatamente ao Serviço de Urgências se:

- Tiver mau aspecto e uma erupção cutânea vermelha-vinosa ou hemorrágica, que pode ser desde pontual e com poucos elementos a múltipla ou com grandes zonas roxas.

- Tiver tido a sua primeira convulsão causada pela febre.

- Tiver uma sonolência excessiva, não se aguentar em pé, tiver vómitos abundantes e dores de cabeça intensas juntamente com rigidez ao dobrar a nuca.

- For um lactante e tiver um choro fraco sob a forma de gemido ou se for muito agudo e persistente, apresentando, além disso, a pele pálida ou arroxeada, ou grande prostração.

- Lhe custar respirar ou se queixar continuamente.

- Tiver idade inferior a 3 meses e a sua temperatura rectal for superior a 39°.

- A febre for alta (mais de 39º) e não tiver baixado com tratamento ao fim de um período de 6-12 h.

Devo acordar o meu filho durante a noite para lhe dar o anti térmico?

Deve medir-lhe a temperatura 3-4 vezes por dia e cada 3 ou 4 horas durante a noite, mas sem o acordar se estiver a dormir com aspecto relaxado e fresquinho. Se notar que está muito quente, convém tirar a temperatura e administrar-lhe a medicação. Destape-o.

O que é que é melhor para a febre: o Ibuprofeno ou o Paracetamol?

Ambos os medicamentos são anti térmicos, isto é, actuam sobre o centro regulador da temperatura, situado no cérebro, mas não “curam” nem intervêm no curso natural da doença. São medicamentos sintomáticos, ou seja, servem exclusivamente para tratar o sintoma “febre” e o mal-estar produzido por ela. Os mais eficazes são o Paracetamol e o Ibuprofeno, e têm um efeito semelhante. Ambos são analgésicos (diminuem a dor), embora o Ibuprofeno também tenha efeitos anti-inflamatórios. O seu efeito anti térmico faz com que a criança se sinta mais confortável, mas raramente consegue fazer desaparecer a febre alta no início da doença. Estes medicamentos devem ser administrados apenas quando a criança sentir mal-estar ou a temperatura exceder os 39°. Siga as instruções do seu pediatra para a respectiva dosagem e lembre-se que, devido à sua toxicidade, os medicamentos devem ser mantidos bem fechados e fora do alcance das crianças.

à conveniente utilizar toalhas embebidas em álcool para baixar a febre?

Em caso de febre, não é conveniente:

- Envolver a criança em toalhas frias ou mergulhá-la em água fria.

- Fazer-lhe fricções com álcool ou colónia, já que pode provocar-lhe uma intoxicação etílica por inalação e absorção pela pele.

- Forçá-la a comer ou a beber (embora seja bom oferecer-lhe líquidos).

- Dar-lhe antibióticos sem ter consultado o pediatra.

- Agasalhá-la mais, mesmo que esteja constipada.

- Medir-lhe constantemente a temperatura.

Artigos relacionados

Consentimento de cookies