Perspectivas de saúde na criança adoptada

A adopção é assumir a responsabilidade social e legal de um menor por parte de um adulto ou de um casal de adultos que não os pais biológicos; é dar uma família a uma criança, e não uma criança a uma família. A adopção é um processo complexo e a principal complexidade reside no abandono da criança e nas suas consequências, sendo a mais importante de todas a elaboração dos duelos pelas inúmeras perdas sofridas pelo menor (pais, irmãos, orfanato, cuidadores e país de origem). No processo de adopção entram em conflito dois mundos muito diferentes entre si: o da idealização e o da dor. A criança que não tem uma família é uma criança numa situação de desamparo, uma criança abandonada que é o verdadeiro motivo da adopção. Há que ter consciência de toda esta realidade para, desta forma, poder estabelecer um bom vínculo. Com o amor, o carinho e os cuidados que lhe proporcionamos a partir do momento em que vive com os pais adoptivos, ajudá-la-emos a ser feliz para que cresça como qualquer outra criança.

Depois de atribuído um filho a uma família, inicia-se um processo de preparação para poder recebê-lo.

Avaliação do relatório médico: relatório médico do menor. à importante marcar uma consulta de pré-adopção com um profissional especializado para assim poder avaliar o referido certificado, no qual se faz referência ao estado de saúde da criança, às vacinas que tomou, aos hábitos de alimentação e de sono. Nesta consulta também se prepara a viagem, dando-se as recomendações oportunas em função do país de destino. Lembramos aos pais que é necessário terem as vacinas em dia (sobretudo da difteria e do tétano) e recomendamos as vacinas específicas do país de destino.

Além disso, é importante a preparação de um estojo de primeiros socorros para os pais, que deve incluir: antipiréticos, pacotes de solução de reidratação oral, na eventualidade de alguém ter diarreia e/ou vómitos, repelentes de insectos, anti-histamínicos, pensos rápidos, álcool, gazes. Recomenda-se o tipo de roupa que se deve levar –tendo em conta o país e a estação do ano em que se viaja– fazem-se algumas recomendações sobre os meios de prevenção a tomar relativamente à ingestão de certos alimentos (por exemplo, não é aconselhável comer alimentos crus ou pouco cozinhados, é melhor lavar a fruta antes de a descascar, convém não beber água que não seja engarrafada e não colocar pedras de gelo nas bebidas).

Preparação do necessário para a criança: aconselha-se o tipo de alimentação que a criança deve seguir, que variará consoante a idade da mesma, embora o melhor seja fazer as mínimas alterações possíveis e continuar com a mesma alimentação que fazia no orfanato e, quando chegar a Portugal, haverá tempo para mudá-la e adequá-la. Se a criança for pequena e ainda beber leite adaptado, normalmente não há problema em comprá-lo no país de acolhimento da criança.

Convém preparar a mala da criança com roupa em função da idade, peso e altura aproximados, do país e da estação do ano, e aconselha-se a não comprar calçado, pois é difícil acertar no número; podem-se comprar no destino. Também com base no peso e na idade, e dependendo se usa ou não fraldas, é aconselhável levar um saco daqui. Na nécessaire colocaremos um pente, água-de-colónia, sabonete especial para crianças, creme hidratante para depois do banho, creme para a zona da fralda.

Preparação do estojo de primeiros socorros para a criança: antipiréticos tipo paracetamol, soluções para reidratação oral infantil, para a eventualidade da criança ter vómitos e/ou diarreia, soro fisiológico para fazer lavagens nasais, em caso necessário, repelente de insectos para crianças (dependendo do país de destino) e seringa para administrar medicação, em caso necessário.

Em Espanha, o número de crianças adoptadas aumentou de forma considerável, sendo actualmente o 2º país, a seguir aos EUA, onde existem mais adopções, a maioria das quais com origem no estrangeiro (Rússia, China, Etiópia). Estes países estão em vias de desenvolvimento, são pouco industrializados e têm escassos recursos económicos e sanitários, o que conduz a uma elevada prevalência de doenças como consequência da exposição a inúmeros factores de risco próprios do país de origem, aos quais há que somar outros factores de risco, como a) os factores genéticos, que se desconhecem na maioria das crianças e que são uma causa importante de doenças, algumas presentes desde nascença, outras de aparecimento mais tardio: ao fim de meses ou até mesmo anos, b) os factores pré-natais (gravidezes não desejadas, não controladas, doenças maternas com repercussão no feto, comportamentos de risco, como drogas, álcool, doenças sexualmente transmissíveis), partos prematuros c) os factores de risco presentes durante a institucionalização: as crianças convivem em espaços reduzidos com poucos cuidadores por criança, com escassa estimulação afectiva e sensorial, com uma alimentação restritiva deficitária, que gera défices nutricionais, anemias, infecções, raquitismo.

Os problemas de saúde muito frequentes na criança adoptada são o atraso pondoestatural, a anemia, as infecções da pele (sarna, pediculose), das vias respiratórias superiores, os parasitas intestinais, o atraso neuromaturativo, as imunizações incompletas ou ausentes. Problemas frequentes: distúrbios de comportamento, atraso na linguagem, baixo rendimento escolar, infecções causadas pelo vírus da hepatite B, tuberculose, anomalias congénitas. Problemas pouco frequentes: grave atraso nutricional e do crescimento, grave perturbação do desenvolvimento psicomotor, infecções como a sífilis, a sida ou o paludismo.

Destes factores de risco, 5% são reversíveis a longo prazo, 90% são problemas ligeiros e reversíveis a médio ou a curto prazo e 5% são irreversíveis ou deixam sequelas. à necessário informar os futuros pais relativamente à possível exposição passada a algum destes factores de risco por parte da criança que vão adoptar, podendo constituir a origem de eventuais problemas de saúde que possa apresentar, para poderem cuidar dela e compensar as eventuais privações, na medida do possível, e assim poder crescer com os direitos que qualquer ser humano tem: usufruir de um meio familiar e ambiental adequado.

Temos que ir à china buscar a nossa filha e gostaríamos de saber se nos temos que vacinar e de quê?

Para viajar até à China não há nenhuma vacina obrigatória exigida, mas é necessário ter o calendário de vacinas actualizado para evitar o risco de infecção de certas doenças como o tétano, a difteria, o sarampo, parotidite, rubéola, assim como ter presente que a vacina do tétano-difteria adulto precisa de doses de reforço cada 10 anos e que pode haver pessoas que na sua infância não se vacinaram da Triple vírica (sarampo, papeira, rubéola). Aconselha-se a que antes de iniciar a viagem se não está vacinado da hepatite que o faça, dado que China é um país com alta endemicidade de hepatite B. Por isso é aconselhável ir a um centro de vacinação com o boletim de vacinas para actualizá-lo e que lhe administrem as vacinas que faltem.

No relatório médico que recebemos do nosso filho, consta que está vacinado de tudo: temos que acreditar no que nos dizem ou temos que voltar a vaciná-lo ao chegar ao nosso pais?

O mais importante é que aos 4-5 dias chegados de viagem contactem o pediatra da criança que avaliará o relatório médico e as doses de vacinas que se lhe foram administradas e segundo estas procederá à revacinação ou só lhe administrará as doses que lhe façam falta para completar o calendário vigente no nosso país, dado que há vacinas que aqui se administram e há países de onde procedem as crianças adoptadas onde não se administram, como são as da meningite e varicela.

à certo que a puberdade precoce é mais frequente nas crianças adoptadas?

Diversos estudos publicaram que a puberdade precoce é mais frequente em meninas adoptadas, sendo mais raro nos meninos. O grupo mais susceptível serão as meninas adoptadas entre os 3 e os 9 anos de idade e isso é devido à soma de diferentes factores como são os nutricionais, neuroendócrinos e os psicoafectivos. Por isto é importante fazer um seguimento médico destas meninas e à mínima suspeita de início de sinais puberais que se produzem numa idade adiantada iniciar o estudo e posterior tratamento afim de retarda-la.

Que repercussão tem o atraso do desenvolvimento psicomotor que apresentam algumas crianças adoptadas?

O atraso psicomotor é um problema que se constata frequentemente nestas crianças e agrava-se segundo o tempo que tiverem permanecido no orfanato. Segundo relatórios publicados a criança sofre um atraso de um mês no seu desenvolvimento normal por cada cinco que passa numa instituição, a falta de afecto e de estímulo são as principais causas do referido atraso e a sua recuperação produzir-se-á quando a criança viva com a família adoptiva e já não sofra as referidas privações.

Somos uma família que vamos buscar o nosso filho adoptado de 8 meses de idade à rússia e gostaríamos de saber que tipo de alimentação temos que seguir.

O mais importante é tentar não fazer mudanças ou se é necessário que sejam as mínimas até que estejam no nosso país. à aconselhável que perguntem aos cuidadores o que é que come a criança e que horários segue, tanto de comida como de sono para fazer o mesmo e reduzir ao mínimo os possíveis problemas que possam surgir. Uma vez em casa e quando forem à consulta do pediatra este dar-vos-á as pautas de alimentação de acordo com a idade da criança.

Adoptámos uma menina de 3 anos na china e iremos buscá-la no próximo mês. Estamos na dúvida de se lhe respeitamos o seu nome ou se o mudamos pelo que gostamos, que é mónica.

à aconselhável não mudar o nome das crianças adoptadas a menos que a menina já tenha 3 anos de idade, pensem que o seu nome e a explicação da sua infância, que vocês lhe derem, e do seu país são os únicos antecedentes e vínculos que lhe restam da sua origem e quando ela já for mais velha é importante desde o ponto emocional saber que não lhe despojaram de tudo o que possuía.

O nosso filho nasceu no brasil e adoptámo-lo aos 4 anos de idade, actualmente tem 6 anos e tem problemas de aprendizagem, que podemos fazer?

Os problemas de aprendizagem são uma manifestação frequente, que aparece a médio prazo quando algumas crianças já iniciaram a escolarização, sobretudo em crianças que foram adoptadas já crescidinhas. São devido às carências às quais estiveram submetidas, à mudança de língua e/ou aos problemas médicos que tiverem padecido previamente. à necessário nestes casos ter paciência: reforçar, sem forçá-los demasiado, em casa o trabalho feito na escola e em muitas ocasiões é aconselhável pô-los num ano inferior ao que lhes compete pela sua idade, com o que se sentirão mais relaxados, mais cómodos e lhes será mais fácil a aprendizagem.

O nosso filho nasceu no brasil e adoptámo-lo aos 4 anos de idade, actualmente tem 6 anos e tem problemas de aprendizagem, que podemos fazer?

Os problemas de aprendizagem são uma manifestação frequente, que aparece a médio prazo quando algumas crianças já iniciaram a escolarização, sobretudo em crianças que foram adoptadas já crescidinhas. São devido às carências às quais estiveram submetidas, à mudança de língua e/ou aos problemas médicos que tiverem padecido previamente. à necessário nestes casos ter paciência: reforçar, sem forçá-los demasiado, em casa o trabalho feito na escola e em muitas ocasiões é aconselhável pô-los num ano inferior ao que lhes compete pela sua idade, com o que se sentirão mais relaxados, mais cómodos e lhes será mais fácil a aprendizagem.

Como podemos saber o tamanho de roupa e de sapatos que temos que comprar para a criança que adoptamos?

Para saber o tamanho da roupa, ao irem comprá-la deixem-se aconselhar com a vendedora guiando-vos pelo peso e o tamanho da criança, mais que pela sua idade, os sapatos é melhor que sejam comprados ao chegar ao nosso país ou enquanto estiverem no país de origem da criança, pois é difícil acertar com o número. Deve-se ter presente que a criança será entregue vestida e com sapatos, pelo que terão tempo para completar o seu vestuário e calçado.

Como podemos explicar ao nosso filho que é adoptado?

Os critérios variam e são muito extensos, não há nenhuma receita que possa ser aplicada a todas as famílias de forma igual. Podemos em linhas gerais utilizar certos factos como propícios ou facilitadores para iniciar o relato que acompanhará a vida da família adoptiva nos seus diferentes períodos vitais. Podemos iniciar o relato a partir do período de espera e posterior viagem para ir buscá-lo onde se encontrava até ao momento em que se produziu o encontro entre ele e os seus pais. À medida que a criança cresce é necessário estar atento ao que vai processando e perguntando para compreender o que entende das respostas que recebe, e evitar que seja inundada com informação que aos pais por ansiedade têm “urgência” em contar-lhe, e ela ainda não pode nem necessita ouvir. à importante ser prudente e não angustiar-se, a informação tem que ser dosificada e administrada de forma gradual enquanto a criança cresce. Também tem uma especial relevância e importância explicar que os motivos da entrega sempre são devidos a uma impossibilidade de cuidá-lo por parte da mãe biológica, nunca a uma falta de amor em relação a ele.

Somos pais biológicos de uma menina de 10 anos e pensámos adoptar uma criança, temos de explicar-lhe antes de iniciar o processo?

à uma condição indispensável explicar à vossa filha de forma simples o que é a adopção, o porquê de existirem crianças em adopção, e se ela gostaria de ter um irmãozinho adoptado, segundo a sua reacção, sempre de forma relaxada e com tempo para que ela amadureça a ideia, possa fazer perguntas e vocês respondê-las, tomarão a decisão. No processo de adopção de um menor tem que estar de acordo toda a unidade familiar para assim poder estabelecer um bom vínculo afectivo. São muitos os casos em que os filhos biológicos não querem ter um irmão adoptado e tem de se respeitar a sua opinião.

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