Gémeos: conselhos práticos para os pais

Os partos múltiplos são frequentes (1 em cada 80 partos, normalmente), embora às vezes um dos fetos não sobreviva. A idade avançada das mães durante a gestação nos países desenvolvidos, assim como a utilização cada vez mais frequente das técnicas de fertilização “in vitro”, aumentaram ainda mais a sua frequência, apesar de actualmente a maioria das complicações resultantes serem resolvidas sem grandes problemas.

Durante a gravidez

Os problemas que podem complicar uma gravidez múltipla são frequentes, embora a prevenção seja possível na maioria dos casos, especialmente se a gravidez for gemelar. Alguns problemas têm origem na própria placenta, como, por exemplo, a discordância entre gémeos e/ou a transfusão feto-fetal: um dos gémeos recebe maior quantidade de nutrientes através do sangue do que o outro, com a consequente falta de crescimento ou anemia de um relativamente ao irmão. Outros derivam das condições maternas: as mães de gémeos verdadeiros ou falsos têm maior tendência para desenvolver diabetes gestacional ou toxemia –hipertensão, inchaço das pernas e perda de proteínas pela urina. Muitas vezes, também surgem dificuldades durante o parto, especialmente se não forem efectuados os controlos adequados e se se deixar evoluir espontaneamente: prematuridade, sofrimento do feto, etc..

A prematuridade é a principal complicação dos partos múltiplos, sendo o risco proporcional ao número de fetos em gestação. Em cada três partos prematuros, um efectivamente o é por se tratar de um parto múltiplo. A idade gestacional média dos gémeos é normalmente de 36-37 semanas. Caso existam complicações maternas (incompetência cervical, hipertensão ou toxemia, insuficiência placentária com atraso do crescimento de um ou dos dois fetos, etc. ...) que representem uma ameaça para o bem-estar fetal, a decisão mais comum é esperar que os bebés “maturem” para evitar as complicações derivadas da imaturidade dos pulmões fetais (a chamada “doença da membrana hialina”), mediante a administração de corticóides à mãe.

A asfixia perinatal ou o traumatismo obstétrico durante o parto também são mais frequentes nos partos de gémeos, sendo o segundo gémeo o mais afectado na maioria das vezes: por isso, actualmente, a decisão de terminar a gravidez por meio de cesariana é uma decisão frequente, evitando-se assim a maior parte das complicações obstétricas.

Período neonatal

Gémeos no fim do tempo ou “quase no fim do tempo”

Nos últimos anos, a maioria dos pediatras neonatologistas em inúmeras maternidades propuseram a necessidade de mudar a forma de atender os recém-nascidos, e isso também se aplica aos partos múltiplos: se possível, tenta-se substituir a presença dos bebés no berçário, considerando-se que é melhor para o bebé ou bebés permanecerem junto à mãe o máximo tempo possível. Além disso, tenta-se evitar a hospitalização na Unidade de Neonatologia dos prematuros com maior grau de maturação (36-37 semanas de gestação), com peso suficiente.

à o chamado “internamento conjunto ou rooming-in”. Os bebés passam directamente da sala de partos para serem cuidados directamente pelos pais ou por familiares mais próximos. Isto facilita a aleitação materna, a pedido e com horário flexível; facilita o trabalho de educação sanitária e o apoio do pessoal da enfermaria, que ensina e ajuda os pais em vez de vigiar directamente o bebé e de o transportar do berçário até ao quarto da mãe várias vezes por dia para ser alimentado.

No entanto, tem os seus inconvenientes, sobretudo no caso dos partos gemelares: a sobrecarga que isso representa para a mãe, se não se sentir bem ou se tiver que atender muitas visitas, para além de ter que cuidar dos bebés. Nestes casos, a ajuda do pai ou de outro familiar é essencial, assim como a implicação do acompanhamento do pessoal de enfermagem e puericultura.

Gémeos prematuros

Se o parto acontecer antes do previsto, o momento mágico do primeiro encontro com os bebés, já de si difícil em todos os partos múltiplos, complica-se ainda mais, pois o corpo a corpo torna-se impossível: um ou todos os bebés são separados dos pais e colocados numa incubadora. As mães, especialmente, podem viver este momento como uma perda e costumam manifestar sentimentos negativos com grande tristeza e/ou sentimentos de culpabilidade.

Alguns prematuros requerem inúmeras supervisões ou análises, sondas ou tubos, e têm normalmente um aspecto muito frágil. Algumas Unidades de Neonatologia empregam procedimentos técnicos muito modernos e isso acarreta uma grande angústia e uma compreensível inquietação para os pais, não habituados a estas situações.

A confiança com a equipa da enfermaria e com os pediatras-neonatologistas é fundamental. Para minimizar o impacto emocional, as unidades neonatais estão cada vez mais “humanizadas” e abertas aos pais: tentou-se ampliar ao máximo o horário das visitas e limitar a duração da permanência na Unidade de Neonatologia na incubadora. Também foi possível minimizar os procedimentos dolorosos, realizar massagens como cuidados de rotina, etc.. e verificou-se que os bebés prematuros que beneficiam destes cuidados evoluem melhor.

mais interessante destas alterações foi o simples, mas ao mesmo tempo extraordinariamente eficaz, método canguru. Teve origem na experiência das unidades neonatais dos países em vias de desenvolvimento, que carecem de incubadoras, aparelhos de respiração artificial, etc. ... Consiste no facto dos bebés sem problemas respiratórios graves permanecerem durante longos períodos de tempo sobre o peito dos pais, pele com pele, alimentando-os com leite materno por sonda ou por sucção. Foi verificado que os resultados são melhores no que se refere à sobrevivência e maturação. Isto é muito gratificante para as mães e permite que tanto o pai como a mãe se envolvam directamente no cuidado dos filhos, conhecendo melhor o seu dia a dia, apesar da sua prematuridade.

Cuidados específicos

Os cuidados específicos dos recém-nascidos de um parto múltiplo dependem, directamente, mais do grau de prematuridade, baixo peso ou da existência de patologia materna, como diabetes gestacional ou outras complicações obstétricas, do que do número de bebés.

à frequente um dos irmãos requerer mais cuidados ou um maior número de dias de hospitalização na Unidade de Cuidados Neonatais do que os outros. Este facto pode complicar a dinâmica familiar durante as primeiras semanas e contribuir para o aparecimento de ansiedade ou depressão nos pais neste momento crucial.

à importante assessorar e antecipar alguma destas situações, se possível, assim como garantir que a mãe receba ajuda suficiente para poder facilitar a sua recuperação e a organização da sua nova família desde o primeiro momento de vida dos bebés.

A aleitação materna em caso de gémeos

A aleitação materna em gémeos ou partos múltiplos de maior número é perfeitamente possível, embora por vezes sejam necessários suplementos.

O início precoce das mamadas, quer sejam directas ou por estimulação do peito mediante bombas de tirar leite eléctricas, a introdução de suplementos sempre que seja necessário, a introdução da aleitação simultânea o mais cedo possível, o apoio e a informação adequados durante a gravidez, a estadia e a alta hospitalar são úteis e quase imprescindíveis.

Para melhorar o êxito da aleitação materna de gémeos ou múltiplos, inicialmente é melhor dar o peito à medida que cada bebé pede, alternando os peitos com cada um deles. Quando a aleitação já se for instaurando, deve-se tentar juntar as mamadas e efectuar aleitação simultânea: existem diferentes posturas que permitem amamentar ambos os bebés ao mesmo tempo: a postura em bola de rugby, a postura cruzada sobre a mãe e a postura paralela.

A informação e o apoio por parte dos profissionais durante a gravidez, os primeiros dias e após a alta, são fundamentais, já que, por exemplo, uma má postura pode dar lugar a gretas ou a mastites, os horários rígidos ou o atraso em introduzir suplementos pode causar uma grande ansiedade e esgotamento à mãe, e a culpabilização perante as dificuldades pode causar depressão ou outros distúrbios psicológicos.

Os primeiros anos: iguais ou diferentes?

Para que cresçam sem problemas, os gémeos devem ser educados com uma perspectiva individualizadora. Há que respeitar as suas diferenças, para que aprendam a decidir por si mesmos.

Os pais devem aprender a detectar fenómenos de domínio ou dependência excessiva de um deles relativamente ao outro, assim como os seus próprios sentimentos de sobre protecção: isso acontece nos casos em que a saúde de um dos dois gémeos é mais frágil do que a do outro.

à aconselhável não vesti-los de igual, não escolher brinquedos idênticos nem compará-los constantemente.

Na escola recomenda-se que estudem em turmas diferentes. Ã frequente um irmão tomar o outro como modelo e, muitas vezes, são objecto de comparação de todos. A relação individual de cada um deles com as outras crianças da mesma idade ajudá-los-á a formar o seu próprio carácter e a reforçar a sua autoconfiança. Uma certa rivalidade é saudável e inevitável entre irmãos, e eternas as disputas e as brigas, mas uma educação baseada no respeito pela diferença evitará problemas emocionais e de comportamento no futuro.

Os pais de gémeos também devem saber cuidar de si e procurar a ajuda necessária –especialmente durante os primeiros anos. O esgotamento conduz a atitudes depressivas ou excessivamente ansiosas. Convém lembrar que os filhos de pais depressivos podem apresentar com maior frequência: neuroses, perturbações de comportamento, acidentes, distúrbios de atenção ou hiperactividade, dificuldades escolares.... Os filhos de pais muito ansiosos estão igualmente expostos a fobias escolares ou a perturbações de comportamento por inibição.

Os pediatras ou os educadores devem fornecer às famílias com muitos filhos as indicações básicas de disciplina adequadas a cada idade, simples e claras, para fomentar a convivência e a harmonia no seio familiar e possibilitar o descanso dos pais.

Tenho uma menina de 4 anos e em breve vou ter dois gémeos. Será que sentirá ciúmes? Tenho medo que ela sofra por este motivo e não sei o que devo fazer para evitar que isso aconteça.

Os ciúmes são uma reacção de adaptação temporária à chegada de um novo irmão e, por conseguinte, é natural que surjam. Trata-se, portanto, de uma conduta “normal”, embora frequentemente haja stress e sofrimento associados. Se a diferença de idade entre irmãos for superior a 3 anos, é mais difícil surgirem ou serem ciúmes patológicos, sendo a idade mais vulnerável dos 2 aos 4 anos. Para evitar que se torne um problema, há que evitar a comparação excessiva entre irmãos e o aumento de ordens e exigências ao mais velho depois do nascimento dos mais pequenos, promover o descanso da mãe e ajudá-la o máximo possível, para diminuir a tensão familiar. Não se deve dar muita importância às condutas negativas (incomodar os pais, ataques de raiva passageiros, alterações dos padrões do sono ou da alimentação) para evitar que se reforcem e se prolonguem. Por outro lado, deverão salientar os esforços e as condutas positivas da sua filha, reconhecendo que é difícil para todos habituarem-se a tanto trabalho, mas que entre todos conseguirão dar conta do recado.

Estou grávida de gémeos e com 25 semanas de gestação. Por apresentar contracções e perdas, medicaram-me e aconselharam-me a ficar em repouso absoluto. Ã grave se nascerem muito prematuros?

Abaixo das 26 semanas, o risco de mortalidade em bebés prematuros é muito alto, entre 40 e 56%, e de sequelas neurológicas em 18 a 30% dos casos. Essa percentagem diminui muito a partir das 27 semanas, com uma sobrevivência de 83-93%, reduzindo para menos de metade a probabilidade de surgirem problemas neurológicos resultantes da prematuridade. Ã muito importante ficar em repouso absoluto e tomar a medicação destinada a amadurecer os bebés e a neutralizar as contracções.

Devo acordar o segundo gémeo quando o outro acorda para comer? O meu pediatra diz que devo respeitar o seu próprio ritmo, (têm um mês) mas é difícil organizarmo-nos quando passamos semanas sem dormir.

À noite pode dar de mamar aos dois quando um acordar, a não ser que algum dos dois tenha necessidades especiais, por exemplo um peso muito baixo à nascença, relativamente ao outro.

Em alguns dias, se não tiver ajuda, é difícil sair para passear com os meus dois filhos gémeos de 2 meses e meio, já que o carrinho não cabe no elevador, mas o pediatra disse-me que é importante sair todos os dias para os ossos se fortalecerem. Ã verdade?

Sim, é verdade. A acção da radiação solar activa a Vitamina D transformando-a no seu princípio activo, que é fundamental para facilitar a fixação do cálcio contido no leite aos ossos. Tal evita o raquitismo, especialmente nos meses de Inverno e durante os primeiros meses de vida. No entanto, se tomarem suplementos de vitamina D3 e passarem muito tempo na divisão mais solarenga da casa, no terraço ou na varanda, não é necessário sair todos os dias à rua.

Amamentei o meu primeiro filho e agora gostaria de fazer o mesmo, apesar de estar grávida de gémeos. Ã possível?

A aleitação materna em gémeos ou nascimentos múltiplos de maior número é perfeitamente possível, embora por vezes sejam necessários suplementos. Para melhorar o êxito da aleitação materna de gémeos ou múltiplos, inicialmente é melhor dar o peito à medida que cada bebé pede, alternando os peitos com cada um deles. Quando a aleitação já se for instaurando, deve-se tentar agrupar as mamadas e efectuar aleitação simultânea: existem diferentes posturas que permitem amamentar ambos os bebés ao mesmo tempo: a postura em bola de rugby, a postura cruzada sobre a mãe e a postura paralela.

As minhas duas meninas são gémeas e têm agora dois anos. Até ao momento têm sido inseparáveis e dão-se muito bem. Ã verdade que no infantário ou na escola é melhor ficarem em turmas diferentes? Não sentirão falta uma da outra e não lhes custará mais adaptarem-se?

Na escola recomenda-se que estudem em turmas diferentes. Ã frequente um irmão tomar o outro como modelo e, muitas vezes, são objecto de comparação de todos. A relação individual de cada um deles com as outras crianças da mesma idade ajudá-los-á a formar o seu próprio carácter e a reforçar a autoconfiança.

Disseram-me que estou grávida de gémeos, e estou muito feliz, mas não consigo entender o que é que faz com que sejam idênticos ou não (parecidos, só como irmãos), apesar de nascerem ao mesmo tempo. Depende de que factores?

Tudo depende do momento da implantação e fertilização dos embriões: os gémeos dizigóticos ou “fraternos” resultam da fertilização e implantação de dois óvulos fecundados ou blastocistos ao mesmo tempo. Os dois óvulos fecundados desenvolver-se-ão em placentas separadas ou adjacentes e podem ser do mesmo sexo ou de sexos opostos.

Os gémeos monozigóticos ou idênticos provêm de um único óvulo fecundado que sofre um processo de divisão. Se isso acontecer depois da placenta já se ter formado, serão monocoriónicos. Se ocorrer antes da implantação, formar-se-ão duas placentas. Estes últimos não têm necessariamente de ser idênticos, mas sim do mesmo sexo, já que depois da implantação alguma mutação ou processo de mosaicismo nos processos de diferenciação genética pode diferenciá-los.

Na última ecografia um dos meus gémeos não crescia tanto como o outro. Como é que é possível se partilham a mesma placenta?

à precisamente nos casos de placenta monocoriónica que existe maior risco de problemas para alguns fetos gémeos. O facto de partilharem o mesmo sistema de circulação placentária pode favorecer a transfusão feto-fetal ou provocar problemas de crescimento resultantes da falta de fluxo sanguíneo de um relativamente ao outro.

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