Como aprendem as crianças pequenas

A brincadeira é talvez a actividade mais importante das crianças pequenas. Ã o seu 'trabalho', a sua principal ocupação e um factor importante de aprendizagem. Embora este processo nem sempre seja evidente, as crianças pequenas aprendem constantemente através das suas brincadeiras quotidianas: explorando o mundo que as rodeia, relacionando-se com as pessoas que conhecem e experimentando as coisas que encontram dia a dia.

As crianças aprendem com os seus companheiros

As crianças aprendem as coisas fazendo-as

As crianças aprendem com os adultos o que se passa nas suas vidas

As crianças aprendem com os seus companheiros

Quando as crianças brincam com os seus irmãos e amigos, aprendem uns com os outros. Quando surgem perguntas, desafios e conflitos, aprendem a resolver problemas. Por exemplo, a Maria, de 3 anos, brinca com o lego, tentando equilibrar uma estrutura e pôr um telhado na sua 'casa'. A Ana, de quatro anos, tem já uma certa experiência nesta tarefa e diz-lhe 'Vamos experimentar o maior, parece-me que encaixa melhor'. No fim, a Maria aprende uma nova estratégia e a Ana consegue resolver um problema enquanto desenvolve as suas aptidões sociais.

Se uma criança brincar com outras crianças de idades diferentes, terá a oportunidade de aprender de duas maneiras diferentes: por um lado, imitando o comportamento das crianças mais velhas, e por outro, 'ensinando' às crianças mais pequenas ou menos evoluídas.

As crianças aprendem as coisas fazendo-as

A aprendizagem é um processo activo. Quantas mais experiências práticas o seu filho tiver, mais curioso e capaz de se desenvencilhar sozinho perante determinadas situações se tornará. As crianças ficam fascinadas com o trabalho que os adultos fazem: a cozinha, as tarefas domésticas e arranjar coisas. Ou seja, estas tarefas da vida real têm um valor didáctico formidável para as crianças. Portanto dê ao seu filho um pequeno recipiente para que ele próprio misture a massa para fazer bolinhos e compre-lhe uma vassoura de tamanho adequado para que a possa ajudar a varrer o chão. Tente arranjar um pequeno martelo ou uma chave inglesa de brincar para que a ajude a arranjar coisas em casa ou na garagem. E tudo isto, é claro, sob a sua supervisão e orientação. Brincar ao ar livre (correr e saltar) é essencial para o desenvolvimento físico da criança e uma oportunidade única para descobrir a natureza.

Também pode ampliar as oportunidades de aprendizagem da criança se dispuser de materiais abertos em casa. Os materiais abertos são aqueles que lhe permitem expressar as suas ideias. São materiais mais activos, que fomentam a sua aprendizagem e não limitam a brincadeira da criança a uma ou duas actividades, como fazem muitos brinquedos. Alguns materiais abertos que pode oferecer ao seu filho são, por exemplo:

- Papel, lápis de cor, lápis de cera, tesoura para crianças, cola e fita cola, para desenhar, escrever e construir.

  • Caixas de cartão e outros objectos comuns (nunca sacos de plástico!).

  • Um cavalete e tintas.

  • Água, areia, plasticina e argila, como estimulantes sensoriais.

  • Legos de madeira ou de plástico.

  • Disfarces, chapéus e acessórios (as crianças de entre 3 e 5 anos ou até mais velhas adoram disfarçar-se e interpretar papéis).

  • Bonecas e roupa para as vestir.

  • Instrumentos musicais simples e oportunidades de ouvir música.

As crianças aprendem com os adultos o que se passa nas suas vidas:

- Utilize livros ilustrados ou contos infantis, já a partir dos 6 meses de idade

- 'Que lindo!', dizemos quando vemos o nosso bebé recém-nascido. Assim começa toda uma vida de amor e apoio que é essencial para que o bebé cresça e se desenvolva. Esta relação gera a sensação de segurança e auto-estima que a criança necessita para aprender e se realizar. Com o seu apoio emocional, a criança tirará o máximo partido da brincadeira (e por conseguinte aprenderá), para o que se pode guiar pelas seguintes recomendações:

- Efectue comentários concretos e positivos. Explique à criança desde os primeiros meses o que vai acontecer ou o que vão fazer num tom claro e tranquilo.

- Dizer à criança 'tens que partilhar' não é muito útil. O máximo que conseguirá é que colabore enquanto você está a vigiar. Mas se lhe ensinar a jogar na sua vez, entendê-lo-á melhor para a próxima vez. Por exemplo, se a pequena Maria, de dois anos de idade, quer que a deixem brincar com esse carrinho de mão cheio de folhas, diga em voz alta: 'A Maria quer brincar depois do Luís. Vamos ver o que a Maria pode fazer enquanto o Luís acaba de brincar com o carrinho de mão. Que tal se prepararmos o próximo monte de folhas?' Deste modo, dá-se à Maria uma oportunidade de participar na brincadeira, em vez de se limitar a esperar. Uma linguagem de apoio emocional como esta encoraja a criança a ver o adulto como seu defensor e ajuda-o a resolver problemas em vez de converter a situação numa disputa.

- Ensine a criança a ser uma boa observadora. As crianças aprendem a estudar activamente o mundo que têm à sua volta. Se for passear com o seu filho de três anos e passar por uma obra, é provável que a criança mostre curiosidade por esta actividade. Partilhe do interesse dele parando para olhar e exclamando: 'Ena! Olha que grandes são as rodas desse camião'. Ensinar a criança a observar é algo que lhe será muito útil durante toda a vida.

- Faça perguntas abertas. Encoraje a criança a pensar e a reflectir colocando-lhe perguntas abertas: 'Porque é que a pá se mexeu dessa maneira? O que pensas que o condutor vai fazer agora?' Dê tempo à criança para elaborar as suas próprias respostas, mesmo que sejam erradas, antes de lhe proporcionar mais informação. Não o corrija sempre, reflicta e continue a conversa. Caso contrário, talvez pense que nunca acerta e perca o interesse em responder.

- Ensine a criança a utilizar o que sabe. Se a criança mostrar interesse em alguma coisa, aproveite-o. Procure nos livros mais informação sobre os veículos que são utilizados na construção. Proporcione-lhe coisas, como pás e camiões, que lhe permitam simular que realiza o duro trabalho do condutor do camião; se reproduzir as suas experiências e representar o que observou, ajudá-la-á a compreender. Volte a visitar a obra para que a criança possa ver como está a avançar, obter mais informações e esclarecer as ideias erradas.

- Existem muitíssimas coisas na vida normal que são apaixonantes para uma criança: viajar de comboio, de autocarro, andar de bicicleta, etc. 'Onde está o carro azul?' (quando a criança está a aprender as cores). Não tem que pensar que tem de ir a lugares especiais para que a criança aprenda. A sua casa, a sua rua, a sua cidade ou as actividades ao ar livre durante o fim-de-semana serão a sua melhor escola.

- Proporcione comportamentos positivos como modelos a imitar. Seja firme mas amável com o seu filho embora tenha que repreendê-lo pelo seu comportamento negativo. Evite modelos educativos baseados no castigo, nas ameaças ou nas repreensões constantes. Felicite as suas atitudes positivas e ignore, sempre que for possível, as suas birras, especialmente se tiver sono ou estiver com fome.

- Uma das formas que a criança mais utiliza para aprender é seguir o seu exemplo. Este processo é natural e quase inconsciente. Por exemplo, se a criança vê que você lê habitualmente, quererá ler e que lhe leiam. E ler é uma das coisas mais importantes que você pode fazer com o seu filho. (No entanto, deve estar consciente de que a criança também pode imitar os comportamentos negativos que observa, motivo pelo qual é importante que nós mesmos nos comportemos com respeito e não ao contrário.)

- Utilize uma linguagem clara e positiva. Evite utilizar palavras em forma de diminutivos ou mal pronunciadas embora sejam as que a criança utiliza para se expressar.

- Toda a gente reage melhor às palavras positivas do que às negativas. De modo que, em vez de dar uma ordem ou estabelecer uma proibição ('Não atires a bola aí!'), é melhor sugerir o que se pode fazer ('Aí podes atirar a bola à vontade'.). De facto, as crianças só aprendem coisas novas se receberem estímulos positivos. Não deixe de o incentivar: 'que bem que fazes', 'muito bem, perfeito' ou 'assim é que eu gosto'.

- A brincadeira é o trabalho da infância. à o meio pelo qual a criança conhece o mundo e aprende como se desenvolve nele. Se você apoiar o seu filho nesta difícil tarefa, permitindo-lhe brincar livremente durante os seus tempos livres, limitando o tempo utilizado a ver televisão (menos de 1 hora diária), especialmente evitando que veja conteúdos inadequados para a sua idade, então o seu trabalho como pai educador será na verdade uma gratificante brincadeira de crianças.

  • Artigo realizado por Jeanne Lepper, M.A.

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